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quarta-feira, maio 02, 2012

Tempo e saúde: Um casamento “perfeito”?

Autor: Luiz Roberto Fava

Cheguei ao aeroporto de Guarulhos de madrugada para o check in com destino à Austrália e escala na Argentina para troca de aeronave.

São três horas da manhã e, no balcão da companhia aérea, recebo a notícia que o voo para Buenos aires, previsto para as seis da manhã, sairá com atraso de duas horas.

Ao saber disso, o patriarca da família que estava atrás de mim começou a se irritar e a vociferar em voz alta. Primeiro coma esposa e depois com todos os que estavam ao seu redor e que aguardavam pacientemente na fila.

Quando chegou ao balcão… coitado do funcionário. Este foi obrigado a ouvir uma enxurrada de impropérios em um volume que mais parecia o alto-falante de um trio elétrico.

Todos estavam estupefatos. Às três horas da manhã aquele balcão mais parecia o pódio de um candidato à eleição de algum cargo.

Enquanto um misto de surpresa e indignação atingia a maior parte daqueles que estavam na fila, um outro tipo de sentimento tomava conta de mim: calma e paz interior.

Esta situação me levou à percepção de como a chamada MODERNIDADE vem influenciando o modo de vida das pessoas e causando nelas uma série de malefícios físicos e mentais decorrentes do estresse.

E se formos buscar mais profundamente uma das causas do porquê de tudo isso, veremos que a falta de tempo é uma das grandes vilãs.

Infelizmente, e desgraçadamente, a vida acelerou.

As pessoas já não tem tempo para mais nada, e a impressão que se tem é que a Vida se resume a dois Ts: tempo e trabalho.

A coisa vem se complicando tanto desde a Era Industrial que, em 1982, o médico Larry Dorsey criou o termo “doença da pressa” para designar os sintomas físicos e mentais que a falta de tempo causa nas pessoas.

Para o teólogo e filósofo Mario Sergio Cortela tudo se transformou em miojo, tudo rápido, pronto em três minutos: o estudo é miojo, os relacionamentos são miojo…

Fazer tudo depressa tornou-se a maneira de ser do cidadão do século XXI porque, para muitos, as vinte e quatro horas do dia tornaram-se insuficientes para fazer tudo.

Para muitas pessoas o dia deveria ter mais que vinte e quatro horas e as agendas mais páginas.

Todo este caos vivido pelo “homem moderno” só serve, em resumo, para movimentar cada vez mais a Economia, e de uma forma cada vez mais rápida. Carl Honore chama isto tudo de turbo-capitalismo,ou seja, vive-se para servir a Economia.

O Homem, hoje, vive para trabalhar mais, consumir mais, ter mais… e acaba se alimentando e dormindo mal, seja em quantidade, seja em qualidade.

E as crianças? Ah! As crianças… Também acompanham este ritmo frenético onde, nas suas agendas constam aulas de idiomas, de música, de esportes, além das aulas normais e das atividades que a escola proporciona.

E, é claro, as consequências de tudo isso são várias e não muito saudáveis:

  • fazer tudo muito rápido leva a erros e ao retrabalho;
  • fazer várias coisas ao mesmo tempo, idem,
  • fazer tudo muito rápido vai lhe estressar e lhe deixar doente, física e mentalmente. Insônia, gastrite, bruxismo, aumento da pressão arterial, problemas respiratórios,ansiedade, depressão,são sintomas clássicos deste estilo de vida. E sem esquecer que eles poderão levar a pessoa ater um infarto agudo do miocárdio, um derrame cerebral e, até, levá-la ao óbito.
  • fazer tudo muito rápido também se reflete no relacionamento com a família. Contamos estórias para os nossos filhos deforma cada vez mais rápida; namorar e fazer sexo se traduzem em uma “rapidinha”, o período de férias passou a ser uma eternidade e a comunicação entre as pessoas da família é feita por recados deixados em post its grudados na porta da geladeira ou do freezer, ou na tela do computador.

Quanto menos tempo temos, mais descuidamos do nosso corpo e da nossa mente. Tornamo-nos irritados, agressivos, sedentários e obesos.

Dormindo mal e comendo mal vamos ter menos energia para enfrentar as tarefas diárias. E aí vamos acabar nos valendo de vários tipos de drogas estimulantes e que podem levar à dependência com todas as suas nefastas consequências.

Não é à toa que o número de acidentes de trânsito tem aumentado, os índices de absenteísmo são cada vez mais altos, a indústria farmacêutica nunca vendeu tanto remédios tarja preta e muitos vem sua produtividade cair sem uma razão aparente.

Quando todos resolvem acelerar para serem cada vez mais rápidos, a saúde será afetada, quer se queira ou não.

Para Carl Honore, vivemos hoje a Era da Fúria: “no afã de andar depressa e ganhar tempo, o Homem é levado à fúria do trânsito, à fúria aérea, à fúria das compras, à fúria dos relacionamentos, à fúria do escritório, à fúria das férias, à fúria da ginástica”.

Em resumo: as pessoas estão se suicidando e não estão se dando conta deste fato.

Para mudar este quadro necessitamos mudar nossa maneira de ser. E isto inclui nossos pensamentos e nossas atitudes.

E como o fazer vem sempre depois do pensar, a primeira coisa diz respeito à mente, torná-la mais calma e mais serena.

Um dos melhores meios para se alcançar este objetivo é através da meditação. Não importa qual o tipo, mas a sua prática. Isto traz inúmeros benefícios, não só para a mente, mas também para o corpo, fatos cada vez mais corroborados por estudos científicos.

Uma pessoa que tem o hábito da meditação diária geralmente tem mais saúde, mais concentração, mais criatividade, são mais reflexivas e menos reativas, são mais relaxadas e menos estressadas, são mais calmas e mais felizes.

Tudo isso não significa que devemos abolir a tecnologia e a sua rapidez de nossas vidas. Devemos,sim, usá-la com sabedoria a nosso favor e não nos deixarmos dominar por ela a ponto de nos tornarmos seus escravos.

Dizia Einstein: “os computadores são incrivelmente rápidos, precisos e burros. Os seres humanos são incrivelmente lentos, imprecisos e brilhantes. Juntos tem um poder que supera qualquer imaginação”.

Só para lembrar: atrás do melhor e mais potente computador existente no mundo (ou que ainda venha a ser desenvolvido), está o Homem.

E só quando o Homem está com a mente relaxada, existirá o espaço necessário para que tudo aquilo que estava “guardado, embutido”, aflore ao consciente.

A meditação é uma ferramenta extremamente útil para enfrentar a vida moderna e toda a sua correria.

Mas também não devemos esquecer o corpo. Arranje sempre um tempo para cuidar dele praticando alguma atividade física.

Para manter a mente calma e,ao mesmo tempo, cuidar do físico, que tal juntar os dois?

Para isso fuja daquelas academias que só cultuam o corpo cm aparelhos que te deixam pior (cansados, suados e sem energia) e a som de ritmos bate-estaca.

Comece a pensar em mudar indo na direção contrária, buscando práticas que acalmam amente e exerciam o corpo.

Um bom exemplo disto é a prática da hatha yoga; um conjunto de posturas e técnicas respiratórias que vão lhe dar maior poder de concentração, deixar sua mente muito mais relaxada e seu corpo mais flexível, mais saudável e menos sujeito a contrair doenças e infecções.

Outra alternativa é a prática de artes marciais, como o judô, o caratê ou o kung fu. Para se desenvolver rapidez nos golpes, é necessário que a mente esteja relaxada e concentrada. Outra forma de praticar exercícios, mas de forma mais suave é representada pela prática do tai chi chuan.

Eu, particularmente, adoro caminhar. Este é o meu exercício favorito para cuidar do corpo e da mente, pois enquanto caminho, pratico exercícios de respiração.

Para mais, enquanto caminho, meu poder de percepção aumenta muito. Consigo escutar o barulho do vento, o canto dos pássaros e admirar a beleza e as cores das flores. Coisas que não se consegue fazer quando estamos com a mente “cheia” ou dirigindo um automóvel.

É também caminhando que tenho melhores ideias e clareza de pensamentos. Consigo me concentrar mais e melhor naquilo que necessito fazer.

Para o aspecto físico, meu corpo só tem a lucrar, pois caminhar, além de gerar mais saúde,causa menos danos do que a prática intensa de exercícios. Sinto-me mais leve e mais saudável para enfrentar o meu dia a dia.

E o que é melhor: é uma forma natural de se exercitar. Não esqueça que o Homem só começou a “acelerar” quando criou as máquinas como o automóvel e o avião. Para mais,caminhar não requer um personal trainner, é gratuito e desprovido de efeitos colaterais.

Meu último conselho: aprenda a gastar um pouco do seu tempo para ter mais saúde física e mental. Assim você não vai gastar tempo e dinheiro com médicos e medicamentos para cuidar dela.

Pense nisso!


Fonte: http://favaconsulting.com.br/tempo-e-saude/

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