Autor: Rubens Soares Jr., PMP
Muito se fala sobre a importância da cultura de uma empresa para a adoção bem sucedida da Gestão de Projetos. E como se não bastasse, disciplina é um termo nem sempre bem compreendido neste país, onde para tudo “dá-se um jeito” e o planejamento é muitas vezes atropelado pela ansiedade de “sair fazendo”. Justiça seja feita: a cultura do brasileiro tem sim melhorado e muito, mas ainda fica a sensação de que falta algo para chegarmos lá.
No entanto, muitos são os desafios encontrados ao buscar adaptar o estabelecido ao desejado. E neste caso, o cenário cultural desejado é vital para a consolidação da Gestão de Projetos no ambiente. Não vamos aqui explorar a necessidade, já que todos nós a sentimos na pele todos os dias. A questão aqui é: o que fazer para reverter o cenário a favor da Gestão de Projetos?
Minha experiência me tem mostrado que a capacitação de pessoas é o ponto central para a mudança. Capacitação que vai além do treinamento. Não vamos desmerecer o treinamento que é fundamental, mas este está mais para um ponto de partida do que de chegada. Mais do que treinamento, é preciso investir em Orientação. A começar pelos próprios gestores de projetos.
E o motivo é simples: os gestores é que são os grandes disseminadores da metodologia, conceitos e ferramentas da Gestão de Projetos.
Em uma organização de porte considerável que está ainda na ascendente da curva de maturidade em Gestão de Projetos, não é raro termos alguns (senão muitos) profissionais que assumem a responsabilidade de gerenciar um projeto, sem possuir conhecimentos sólidos ou experiência suficiente para garantir uma gestão de sucesso. É para estes profissionais, que geralmente estão com a motivação em alta pela oportunidade proporcionada, que se torna fundamental a escolha de um coach.
E qual a função do coach? Interagir das mais variadas formas: ouvir, perguntar, fazer pensar, medir, orientar, recomendar e aprender. Um bom coach tem que ser antes de qualquer coisa, curioso. Ele sabe que para ajudar precisa trabalhar junto, não nas tarefas do projeto em si, mas fazendo as perguntas que vão levar o gestor do projeto a perceber a real situação em que se encontra e as possíveis alternativas de decisão.
O coach é preferencialmente alguém que não faz parte da equipe do projeto em questão. Desta forma, garante-se a imparcialidade e a influência de uma visão externa. Como os detalhes do projeto não são de conhecimento do coach (lembre que ele está de fora), isso exige que o coach faça as questões básicas de gestão que vão conduzir a diagnósticos mais precisos do que ocorre naquele projeto. Geralmente a reação do gestor do projeto é: “por que não pensei nisso antes?”. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para se corrigir o curso das coisas num tempo melhor.
Já para os gestores mais experientes, a função do coach permanece e vai além. O coach agora se volta para questões mais complexas, como forma de elevar o nível de maturidade de gestão da companhia. Cabe ao coach estimular o gestor do projeto a usar técnicas e ferramentas de que o gestor possa não estar habituado a fazer uso, ou mesmo adotar algumas novas de forma experimental. Geralmente, ao término do projeto, o gestor se sente apto a também ser coach de outros gestores.
Como parte da capacitação destes profissionais, o reconhecimento é uma etapa que não pode ser ignorada. Uma das formas de reconhecimento que se mostra bastante eficaz é a oportunidade de exposição do profissional. Mesmo o projeto não tendo sido um sucesso absoluto, a exposição faz sentido já que o gestor tem algo a dizer aos demais na forma de lições aprendidas. Saber discorrer sobre problemas também faz parte da maturidade de um profissional.
É claro que as formas de reconhecimento são inúmeras e todas válidas, mas para a consolidação da Gestão de Projetos na cultural empresarial, é importante que a forma escolhida de reconhecimento proporcione destaque ao gestor do projeto. A evidência do gestor o torna referência dentre o grupo. É desta forma que os demais profissionais, gestores ou membros de equipe, perceberão que as boas práticas de gestão as tornam profissionais melhores e mais valorizados. A conseqüência natural é o maior interesse e apoio à adoção da Gestão de Projetos, o que influencia profundamente a cultura da empresa. Talvez de maneira irreversível e é exatamente o que se pretende.
A forma de pensar e agir muda sensivelmente num ambiente onde se planeja antes de sair fazendo. Onde para tudo se dá um jeito, sim, porém mais no sentido da persistência ao gerir riscos do que responder a surpresas. As evidências dos benefícios da “nova cultura” falarão por si mesmas.
A mudança cultural é, portanto, uma tarefa que se completa como um projeto: por etapas, com base numa estratégia, com persistência, sem perder o objetivo de vista e através de uma série de pequenas conquistas. Os benefícios da Gestão de Projetos já são do nosso conhecimento. Cabe então a nós, e a mais ninguém, difundi-los como agentes influenciadores na cultura que nos cerca. Afinal, somos parte dela também.
Fonte: http://www.pmisp.org.br/enews/edicao1007/artigo_01.asp
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