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segunda-feira, agosto 02, 2010

O que a minha avó me ensinou sobre gerência de projetos

Autor: Marcelo Costa

Um tema recorrente nos diversos blogs e sites que abordam metodologias ágeis é "por que o PMBoK inviabiliza as práticas ágeis?". Volta e meia, nas minhas andanças pela web, esbarro com algum texto listando uma série de trechos de (bons) livros, usando isso para justificar que a Gerência de Projetos PMI Style seria óleo e a Agilidade seria água, ou seja, coisas que não se misturam.

E dá-lhe: "tal trecho que fala 'blá blá blá', no capítulo tal, mostra que é impossível usar o PMBoK em um projeto ágil" ou: o "tal trecho que diz 'blé blé blé', o que torna as duas coisas incompatíveis".

Diante do exposto, queria contar uma história. A da minha avó e seu caderno de receitas.

Dona Heloiza era uma grande cozinheira. Não estou dizendo isso por nepotismo. Era mesmo. Podem perguntar a quem não era da família, mas que teve oportunidade de degustar sua comida. Galinha ao molho pardo clássica. Lasanha sensacional. Daria para fazer aqui uma lista enorme de tudo de bom que ela cozinhava.

A vida inteira minha avó colecionou receitas em um caderno. Cada vez que lia uma receita em uma revista, ou via em um programa de televisão, experimentava a mesma. Cozinhava, submetia o resultado à aprovação da família e, se todo mundo gostasse do prato, ele era registrado no caderno.

E, assim, o caderno (e a gente) ia engordando. Não importava qual era a fonte, revista, jornal, dica de amiga, o ciclo era sempre o mesmo. Aprender, testar, aprovar e registrar.

Mas vovó tinha um segredo. Ela nunca preparava o prato igualzinho ao que estava registrado. Ela sempre mudava algo, adaptava o preparo à situação. Se alguém não gostava de cebola, ela ralava a dita cuja e falava que tal ingrediente não tinha sido usado. Se não tinha massa pra lasanha, usava massa de macarrão (e ficava sensacional). Se não tinha camarão pra empadinha, fazia com frango a mesma receita. E ficava bom demais.

E, assim, as receitas sempre davam certo e faziam sucesso. Isso porque eram adaptadas para cada ocasião e necessidade.

Não havia ortodoxia nem leitura "ao pé da letra". Havia, sempre, a vontade de fazer funcionar de acordo com a ocasião.

Assim é o PMBok. Um livro de referências. Um conjunto de melhores práticas que foram listadas por milhares de especialistas como interessantes para a execução e o gerenciamento de um projeto.

Esses especialistas passaram por experiências, testaram técnicas, checaram se funcionavam e registraram, para que outras pessoas pudessem utilizar o conhecimento.

Mas, como um bom livro de receitas, não foi feito para ser seguido à risca, mas sim para ser adaptado a cada situação.

Checando a definição na Wikipédia, encontramos:

O Guia PMBOK é o guia que identifica um subconjunto do conjunto de conhecimentos em gerenciamento de projetos que seria amplamente reconhecido como boa prática na maioria dos projetos na maior parte do tempo, sendo em razão disso utilizado como base pelo Project Management Institute (PMI). Uma boa prática não significa que o conhecimento e as práticas devem ser aplicadas uniformemente a todos os projetos sem considerar se são ou não apropriados.


Condenar uma obra de referência a uma leitura literal é, no mínimo, ingênuo. E virar as costas para a opinião de milhares de especialistas pode soar de forma bem presunçosa.

Acredito que o segredo vai ser sempre se munir do maior número de informações, técnicas e opiniões possíveis. Ter sempre um vasto ferramental. E, na hora da ação, do fazer acontecer, escolher o que melhor se encaixa a cada situação.

"Ah, mas meu problema é inédito. Nunca ninguém fez isso". Bom amigo, aí, nesse caso, cabe a você ser o herói e abrir o caminho na mata virgem.

Mas, se alguém já passou pelo caminho, não custa muito pelo menos ouvir, nem que seja para fazer diferente.

Daí vejo que minha avó sempre esteve certa. Testou tudo o que achou de bom no seu caminho. Registrou o que se mostrou melhor. Mas nunca deixou de adaptar, de se moldar ao momento, de buscar a melhor maneira de fazer funcionar. Sempre analisando o momento e a situação.

Pensem nisso.

Fonte: http://imasters.uol.com.br/artigo/17540/gerenciadeprojetos/o_que_a_minha_avo_me_ensinou_sobre_gerencia_de_projetos/

Um comentário:

Evandro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.