Autor: Tatiana Melis S. Alvares
Existe na psicanálise um texto específico de Freud que trata de três desses quatro movimentos da vida subjetiva do ser humano: recordar, repetir e elaborar. A transmissão faz parte de uma linha que realizou uma releitura da obra freudiana chamada de lacaniana.
Recorda-se daquilo que passou e como foi construído esse ou aquele comportamento. Repete-se em cenas diferentes da vida os mesmos sintomas, os mesmos jeitos, as mesmas dificuldades, mesmo já sabendo do que se trata. Elabora-se tudo isso, entende-se de que a escolha é pessoal e intransferível e faz desse registro algo novo. Transmite-se o que de sabedoria ficou disso tudo.
Lembrei-me dessa passagem da teoria freudiana, que admiro muito, pois vejo tanto pessoas como organizações com uma grande dificuldade de passar da segunda etapa desse processo de evolução. Repete, repete, repete, repete, repete, repete, repete. Tão incômodo quando ler várias vezes essa palavra escrita.
A repetição de comportamentos emperra o desenvolvimento e impacta na vida do outro de uma maneira que nunca sabemos bem como: vai saber, dentro do baú de cada um, o que vira aquilo que nós não damos conta de movimentar para frente dentro da nossa cabeça.
Aliás, movimentos para trás é um ato mais confortável para a maioria das pessoas e empresas, pois lá sabemos – bem ou mal – o que pode ter. Aqueles que elaboram suas histórias, que ressignificam o que lhes ocorreu, lançam um novo olhar à própria história e ela fica com cara sua! Isso trás, na maioria das vezes, um sentimento de “propriedade da própria vida” e dá-se um passo sério: a transmissão daquilo que se aprendeu/reaprendeu com esse processo.
É a qualidade da transmissão que dita quem somos ao mundo e o quanto somos capazes de oferecer ao outro e a nós mesmos possibilidades de transformação.
Aprendi em anos de análise e no início da minha caminhada pela PNL e outros assuntos correlatos que tudo depende de uma decisão, de um ato de coragem tanto de olhar, como de agir e de mudar. Nada disso é muito fácil, de novo, tanto para pessoas como para as organizações.
E é pela falta de facilidade que pessoas que já tiveram essa experiência possuem responsabilidade redobrada. Mais velho ou mais jovem, homem ou mulher, pobre ou rico, não importa. A manga é a mesma e é necessário chupá-la.
Viver e carregar os frutos desse processo nos garante uma coisa apenas, mas me parece a única que vale a pena: viver segundo nosso desejo. Aquele mais profundo, de missão, de legado, sabe? É perigoso? Muitas vezes, sim. É trabalhoso? Todas as vezes. Coloca em risco pilares que julgamos nos sustentar? Sim. Traz consigo novos caminhos? Traz. Traz consigo novos amigos? Traz. Deixa gente e coisas pelo caminho? Yes.
Carrega a felicidade de ser quem é e de fazer o que se faz? Ah…certamente…
Fonte: http://ogerente.com.br/rede/carreira/processo-de-transmissao
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