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terça-feira, fevereiro 18, 2014

Será que realmente podemos confiar naquilo que pensamos ser?

Autor: Marcos Rezende

Momentos após eu ter nascido, enxerguei muitas luzes, a maioria sem forma.

Encontrei minha mãe e um aconchego muito grande em seus seios para me alimentar com leite e carinho. Ouvia sons estranhos de muitas coisas e encontrei em outros abraços mais amor e conforto. Puseram-me roupas e me deram brinquedos. Muitas pessoas foram me ver e brincar comigo enquanto eu ainda tentava identificar aquelas formas e sons.

Com alguns dias de vida, eu já focava alguns objetos enquanto abandonava outros que compunham a mesma cena. Também focava sons dando mais valor ao silêncio que havia entre eles para poder ouvi-los melhor. Tudo começava a fazer sentido.

Os sons geralmente eram os mesmos e assim também eram as imagens. Das imagens que eu via, eliminei aquelas que não via tanto para me fortalecer naquelas mais vistas. Das pessoas, foquei no meu pai e na minha mãe. Dos objetos, já podia identificar quando estava em casa. E dos sons, já conseguia identificar aquele que todos se referiam a mim como meu nome.

E a vida foi se desenvolvendo na medida em que eu me desafiava a focar algumas coisas e abandonar outras.

  • Para ler uma palavra na escola, por exemplo, precisei abandonar todas as outras letras do papel e focar naquelas letras que estavam juntas entre dois espaços em branco.
  • Na rua, precisava abandonar os objetos parados para me concentrar naqueles que se movimentavam se eu quisesse ir de um lado ao outro da calçada.
  • No trabalho, anos mais tarde, tive que abandonar todos as outras atividades desempenhadas pela empresa onde trabalhava para poder focar apenas naquela atividade que somente eu era designado a fazer.

Sempre tive que escolher uma opção para focar o meu olhar, abandonando todas as outras que existiam. Essa é a história da minha vida e assim imagino que também seja a sua.

Será que fizemos certo? Será que fizemos errado? Nunca iremos saber.

A única coisa que sabemos é que, com certeza, tivemos que abandonar muitas possibilidades para ficar com outras em uma razão provavelmente muito maior que um para mil. De mil possibilidades, escolhíamos uma que nunca saberemos se foi a melhor ou não. Aliás, nem vale à pena pensar nisso. Melhor é pensar pra frente. No que vamos fazer com as outras tantas possibilidades que são apresentadas a nós diariamente de hoje até a nossa morte.

No entanto, vale a reflexão. Termos abandonado inúmeras possibilidades para escolher apenas uma foi o que nos fez chegar até aqui da forma que nos reconhecemos hoje. Naturalmente nossas escolhas anteriores foram influenciando as outras até que se formou uma linha histórica da nossa vida sob os nossos pés.

Mas e se eu tivesse sido criado somente por um dos meus pais ou por pais adotivos? Ou se eu pudesse não ter estudado as coisas em uma sequência e estudasse apenas o que me interessasse? E se no futebol eu torcesse para a Argentina mesmo sendo brasileiro? Ou se eu trabalhasse no meu ritmo fazendo o que eu gostasse para ser feliz e servir aos outros ao invés de sofrer como um pagador de contas profissional?

Com tantas possibilidades abandonadas, eu só posso chegar a conclusão de que não estou certo sobre quase nada a respeito da vida.

Toda confusão que sentimos dentro de nós acontece porque passamos toda a vida transformando algo que “está” em algo que “é”.

Estou escrevendo este artigo neste momento e me intitulo escritor. Estou pai neste momento e me intitulo pai. Estou pensando neste momento e me intitulo indivíduo. Enfim, tudo o que fazemos durante a vida é tentar tornar infinito aquilo que tem fim. Até mesmo o nosso trabalho aqui, abandonando todas as outras possibilidades.

Tudo o que eu e você queremos é a felicidade. Queremos viver, perto das pessoas que amamos e consideramos. Queremos nos divertir e amar, mas infelizmente, por significar aquilo que está e não é, vivemos um conflito constante entre o que somos e o que estamos fazendo, tornando nossa própria vida um imenso presídio de onde não conseguimos escapar.

Nossa vida se tornou um presídio imenso de onde não conseguimos fugir. Crescemos com medo porque não enxergamos o todo. Seguramo-nos nas pequenas cordas que amarramos sobre um grande precipício de oportunidades imensas que não nos demos a chance de sequer observar, quiçá aproveitar. Conhecemo-nos parcialmente e também parcialmente conhecemos o mundo. Proteger-se e segurar-se em objetos e relacionamentos virou o senso comum.

Aí queremos mudar o mundo, trocar o governo, sair do emprego, encerrar a sociedade, terminar o namoro, comprar uma casa nova, fazer mais exercícios, conquistar o campeonato e saldar todas as dívidas porque precisamos de novas cordas para nos amarrar. Precisamos abandonar aquilo de que não gostamos para nos segurar em outra “coisa” que provavelmente é melhor que a anterior para que assim, fiquemos pulando de galho em galho sem firmeza.

Dispa-se dos seus conceitos

Nem mesmo quando estamos nus em frente ao espelho paramos de conceituar aquilo que vemos. Logo, como é possível aproveitemos as oportunidades infinitas que o mundo nos oferece se já saímos de casa não aceitando aquilo que somos e não o que estamos.

Enxergue-se como você é e repare que você não é gordo, incapaz, medroso ou velho. Você pode estar gordo, incapaz, medroso ou velho, mas sinceramente você não é nenhuma dessas coisas.

Você pode facilmente se decidir em abraçar as oportunidades mais saudáveis para comer, por exemplo, e se ver livre de hábitos que influenciam o seu “estar” hoje.

No meu trabalho como orientador de carreira para empreendedores, percebo muito claramente que a mentalidade faz toda a diferença na hora de assumir o risco de empreender, pois muitas pessoas estão habituadas a sentir medo e a cultivar crenças que não colaboram com o seu progresso, apenas as mantém onde a mentalidade de seus amigos, pares e familiares estão.

Se você leu esse texto até aqui e refletiu junto comigo sobre as coisas que abandonamos e as coisas a que nos prendemos, provavelmente chegou a mesma conclusão a que eu cheguei e que alguns homens e mulheres sábias que passaram pela Terra concluíram:

“Se você passar toda a sua vida aguardando a tempestade, você nunca vai aproveitar o raiar do sol” ~ Morris West

Nós escolhemos aquilo que queremos ver desde o momento que nascemos. Você pode olhar para o mundo agora e enxergar um monte de oportunidades ou enxergar um mundo de perigos. A vida é uma grande experiência na qual nós somos os observadores. Se decidimos escolher isto ao invés daquilo, isto será escolhido e ponto.

Preste atenção ao seu mundo, dispa-se das suas crenças e volte a ser quem é, abandonando quem você está.

Fonte: http://mude.nu/sera-que-nos-realmente-podemos-confiar-naquilo-que-pensamos-ser/
Texto sugerido pelo amigo: Gilles B. de Paula

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