Google Analytics

sexta-feira, setembro 17, 2010

Precisamos aprender a pensar diferente

Autor: Rique Nitzsche (Diretor da AnimusO2, a primeira empresa de Shopper Marketing a usar o Design Thinking como ferramenta de inovação, e professor de Design Estratégico e Design Thinking da pós-graduação da ESPM)

Professor de Design Estratégico e Design Thinking da pós-graduação da ESPM, fala sobre as mudanças na educação da disciplina de marketing e design

"As pessoas valem pelo que são capazes de fazer, e não por aquilo que conhecem. Algumas pessoas sabem tudo, mas não conseguem transformar isso em nada."
Carlos Alberto Sicupira, um executivo bem-sucedido que sempre se dedicou a formar pessoas.

Sabe-se que o mercado dá valor ao profissional, ou a equipe profissional, que sabe fazer as coisas acontecerem. Ninguém nasce sabendo como fazer as coisas, mas as pessoas aprendem, principalmente as automotivadas. Empresários de sucesso costumam dizer que o aprendizado deve ser contínuo durante toda a vida profissional. Nunca soube de um profissional de sucesso que se considerasse pronto. O sucesso sorri para os que estão sempre aprendendo, investigando, se adaptando, surfando nas ondas das mudanças.

Porém, nessa época acelerada, um produto que vem mudando pouco é o ensino, principalmente de adultos. Na primeira metade da década, o ex-Secretário de Educação dos Estados Unidos, Richard Riley, disse que "os 10 trabalhos mais importantes na futura demanda de 2010, ainda não existem em 2004". O que isso significava? "Que nós estamos atualmente preparando estudantes para trabalhos que ainda não existem. Que eles usarão tecnologias que não foram ainda inventadas, para resolver problemas que nós ainda não sabemos quais são."

Pouco depois, em 2005, uma experiência começou dentro de um trailer em um campus na Califórnia. Lá, a semente da d.school foi germinada. Depois de rodar por quatro diferentes ambientes experimentais em 5 anos, a d.school inaugurou o prédio 550 da Stanford University, totalmente dedicado a ensinar uma metodologia de resolução de problemas para estudantes ou formados em engenharia, medicina, negócios, humanidades, educação, além de designers.
A metodologia é conhecida por Design Thinking, um neologismo com 7 anos de idade, que usa as habilidades dos designers para gerar uma abordagem tecnicamente possível, comercialmente viável e centrada tanto na inovação como nas necessidades humanas. Como opção à essa terminologia, os canadenses costumam usar o termo Business Design, com a mesma intenção.

Por que colocar 32 milhões de dólares nessa ideia? Porque muita gente acredita que um ambiente diferenciado importa muito quando falamos de educação. Existem muitos livros que falam da necessidade das mudanças no ensino para as crianças. Mas poucos abordam das necessidades de mudança no ensino dos adultos.
"Unidos pela convicção que o ambiente é o terceiro professor das nossas crianças, nós devemos começar novamente uma missão vital: projetar as escolas de hoje para o mundo de amanhã." Esse é parte de um discurso do livro "O Terceiro Professor", editado em 2010, com 79 ideias para serem usadas para transformar o ensino e o aprendizado. O livro é mais outro poderoso manifesto de inovação com a participação de Bruce Mau.

Nós nos acostumamos a projetar o mundo segundo o ponto de vista das nossas próprias intenções. Quando compramos um aquário, escolhemos um que ficará bem na estante da sala. Quase nunca pensamos no formato ambiental que o peixe necessita para viver. Chamamos nossas lojas de pontos-de-venda, porque nosso interesse é vender.
Já os norte-americanos chamam suas lojas de point-of-purchase, ou pontos-de-compra. Chamamos as clínicas medicinais de casas-de-saúde, quando os alemães chamam-na de krankenhaus, a casa-da-doença. Nossas escolas foram desenhadas para ensinar, quase nunca para aprender. Pois a d.school de Stanford foi desenhada para que as pessoas aprendam em um processo de compartilhar ideias em equipes colaborativas e interdisciplinares.

"Se Jesus Cristo usasse Power Point, não teria discípulos", é uma citação saída do artigo de Claudio de Moura Castro, em agosto de 2010, onde ele dizia que histórias e parábolas são narrativas emocionais que não conseguem ser mostradas nos slides de um PowerPoint.
Eu me lembrei da Ruth, profissional experiente e minha aluna da ESPM. Ela "achava importante a construção de uma sala de aula, para trocas, que permitisse a exposição, comunicação e reflexão". Ela estava manifestando o seu incômodo com a formatação da aula tradicional, com muitos slides de PowerPoint, na qual o professor é o único emissor do conhecimento. Quando eu li que ela desejava "mais diálogo e menos monólogo", entendi que o problema estava no processo, não no conteúdo do conhecimento.
Eu havia me adaptado à formatação da sala de aula tradicional e estava oferecendo aulas tradicionais, enquanto o mundo exigia mais conexão e relacionamento, onde o professor deveria ser um facilitador de trocas de experiências. Eu precisava mudar rápido.

O adulto, motivado por necessidade e interesse, quer assumir o controle do seu aprendizado, não encerrado em ambientes disciplinares, mas em atividades colaborativas abertas. As pessoas adultas só aprendem o que querem aprender, o que faz sentido para seu próprio interesse e seu crescimento.
Esse pensamento se aplica às empresas ou à qualquer grupo de pessoas. Peter Senge dizia que as organizações deveriam criar ambientes para que o conhecimento tenha cada vez mais espaço para se desenvolver pelas equipes colaborativas para estabelecer um objetivo comum, para alcançar um futuro melhor. Ele também falou sobre os problemas atuais, que não podem ser resolvidos sem uma mudança radical na forma de pensar, agir e de aprender.

Grande parte das referências acadêmicas sobre a prática do pensamento por meio do design - Design Thinking - no universo dos negócios citam as palavras de Herbert Alexander Simon no livro em que ele aborda a ciência do artificial, de tudo que é construído pelo homem, inclusive a inteligência artificial. "Engenharia, medicina, negócios, arquitetura e pintura estão relacionados não com o necessário, mas com o possível, com a contingência - não como as coisas são, mas como elas podem ser - em resumo, com design.
O design é usado por todos os que planejam ações dirigidas para a transformação de situações existentes para outras preferidas."Foi Simon quem começou a falar sobre a metodologia do design como uma solução para o "treinamento dos profissionais" para se atingir um futuro melhorado. Isso, há 40 anos.

Resumindo, existe muita gente sinalizando a necessidade de uma mudança mais radical na experiência do aprendizado contínuo. Como o conhecimento fica cada vez mais disponível para todos, a mudança deve estar em como fazer com que a informação pode ser absorvida pelas pessoas, conquistando significado e valor mais permanente para elas.
Na minha opinião, isso pode começar pelo redesenho físico das próprias escolas de negócios. As salas de aulas, assim como os ambientes de trabalho, precisam se adaptar à mudança que já aconteceu na mente e na vida diária das pessoas. Podemos projetar um ambiente multifuncional mais tolerante à nova tecnologia mutante, mais flexível para atender às inevitáveis futuras mudanças, mais favorável aos verbos compartilhar, trocar, improvisar, transferir, conectar, interagir, participar, investigar, imaginar, criar, sonhar, cuidar, desenvolver, potencializar, criticar, comunicar, construir, analisar, solucionar, acrescentar, crescer, transformar e aprender.

Esses foram os verbos que apareceram espontaneamente no primeiro exercício de sala do curso de Inovação e Criatividade da pós-graduação de Branding das Faculdades Rio Branco, quando eu sugeri a co-criação de uma sala de aula mais inovadora. O trabalho final ficou bastante bom. Eles me lembraram que "a missão do facilitador está em estimular os participantes a um posicionamento ativo no aprendizado, provocar experiências, estimular a capacidade de autoavaliação e de trabalho em equipe, evitando a passividade e o esmorecimento."
Mas, o que eu aprendi mesmo com eles é que o facilitador deve ter "humildade para manter-se em segundo plano, isto é lembrar-se que 'o juiz de um jogo é tido como bom, quando os jogadores e a torcida não percebem a sua presença'." Espero ter aprendido para sempre.

Uma confissão de encerramento: eu escrevi esse texto logo depois de ler, aqui na HSM Online, um ótimo artigo chamado "Ensine menos e aprenda mais" escrito pelo Gil Giardelli, professor da pós-graduação da ESPM. Lá, além dos seus próprios pensamentos instigantes - "Não use velhos mapas para descobrir novas terras!" - ele nos oferece uma frase do Don Tapscott: “As escolas deveriam ser lugares para se aprender, e não para se ensinar."

Fonte: http://www.hsm.com.br/editorias/precisamos-aprender-pensar-diferente

Nenhum comentário: