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sábado, agosto 08, 2009

Retrato do Futuro

Imagine poder viajar no tempo e saber com antecedência tudo que virá. Saber para onde vai o mercado, o que vai ocorrer nas bolsas, qual a tecnologia que triunfará dentro de dez anos. Mas nem precisa tanto, imagine receber hoje o jornal de amanhã, as principais notícias, os eventos mais importantes, o resultado da loteria. Ter essa informação em nossas mãos uma única vez, umazinha só, e poderíamos mudar o rumo de nossas vidas.

A boa nova é que todos nós podemos antecipar o futuro, saber com antecedência o que é mais importante, fazer nossa própria loteria. Todos somos capazes de predizer o futuro, para isso é preciso exercitar nossa visão estratégica. A visão é saber o que se deseja, a estratégia é colocar isso no dia a dia, na agenda de trabalho. Quem desenvolve uma visão estratégica cria uma rotina que permite viver tudo o que se pretende no futuro, só que antes. Não tem a ver com decisões futuras, mas com impactos futuros de nossas decisões no presente. Assim como o presente é uma conseqüência direta de nossas ações no passado.

Uma questão importante para se desenvolver a visão estratégica é antecipar tendências, verificar como o mundo vai progredir, perceber oportunidades, descobrir nichos, ver o antigo de um jeito novo. Elaborei, a partir de um trabalho de dois anos de pesquisa, observação e relacionamento no mercado, cinco grandes tendências para o mundo corporativo, que afetam de forma direta e indireta a vida de cada um de nós. Esse artigo foi publicado na Columbia Spectator, a Revista Científica da Universidade de Columbia em Nova York, e apresento aqui uma síntese dessas idéias. Para facilitar a absorção dos conceitos estabeleci essas tendências num conjunto de cinco “Es”. Vamos a eles:

Economia Digital

O mundo está passando da estocagem para a usinagem. De processos lineares para atividades sistêmicas. De seqüências bem ordenadas para estímulos simultâneos e cada vez mais rápidos, que funcionam à velocidade de um toque no teclado. Nessa tendência o que muda de forma contundente não é a tecnologia e seus sistemas sofisticados, mas a maneira como as pessoas pensam e se relacionam. As redes de trabalho, a virtualidade, a simultaneidade e a visão sistêmica são os grandes atributos dessa tendência. Agir sinergicamente de forma a compor times auto-gerenciados, focados em resultados, atuando por tarefa e preservando a diversidade, é o grande desafio da Economia Digital. Saber lidar com demandas múltiplas, com personalidades diversas, em ambientes mutantes, vai exigir um perfil profissional efetivamente polivalente, tolerante com as diferenças e perfeitamente ajustável ao instável mundo da mudança. As corporações também terão que se adequar a esse novo ambiente, criando sistemas flexíveis de tempo e remuneração, redefinindo competências e gerenciando oportunidades ao invés de processos e pessoas. Essa grande tendência marca de forma significativa o ambiente empresarial, pois muda os paradigmas básicos de sua ação, que passam do controle para o estímulo, do capital financeiro para o intelectual. Quem não souber fazer com sucesso essa travessia, vai ser excluído das melhores oportunidades de mercado.

Estética

A World Future Society, uma organização voltada para o estudo das megatendências mundiais, concluiu em sua reunião de agosto de 2000, em Boston, USA, reunindo personalidades, lideranças e cientistas de várias partes do mundo, que estamos entrando na sexta onda do mercado, que é a cultura. A demanda por arte, educação, design, gastronomia, história, enfim pelo conjunto de elementos que caracterizam a cultura, está se expandindo das classes mais privilegiadas e chegando até as populações mais empobrecidas. Os consumidores passam a ter uma visão ampliada dos atributos de um produto, de um serviço e de uma empresa, buscando um relacionamento com bases estéticas claras, onde a cortesia, o interesse e a efetividade sejam as bases das ações corporativas. O desempenho estético não é apenas a aplicação de design, ou a beleza de ambientes e produtos, é, especialmente, um comportamento ligado ao belo, com relacionamentos esteticamente concebidos. Isso significa que toda a ação empreendida dentro e fora da organização deverá ter como premissa à estética, ser agradável e proporcionar prazer a quem a realiza e a quem a consome.

Ética

Essa é uma das tendências que afeta de forma mais profunda o futuro, porque vai além das questões institucionais, redefinindo todo o conjunto da sociedade. A ética não se restringe a discussão das questões morais, dos usos e costumes, ela é a essência do comportamento, onde o talento, os sonhos, os princípios e valores são a matéria prima da vida. Para viver plenamente essa realidade a organização precisará redesenhar seu processo de gestão dos talentos humanos, para incorporar valores como cidadania, indivíduo e comunidade, integridade pessoal, aspirações para o futuro e integração com a família. Os impactos éticos de toda a ação corporativa serão monitorados pela sociedade e é ela quem vai definir a continuidade ou não de determinada atividade ou organização. O conjunto de crenças está se alterando e com ele devem mudar também a maneira como as decisões são tomadas e as razões pelas quais a organização se move. Os fins não justificarão mais os meios, pois esses serão um fim por si mesmos, na medida que devem gerar pessoas e instituições melhores. Empresas socialmente responsáveis serão organizações mais competitivas, com atração dos melhores talentos e um desempenho avalizado por toda a comunidade.

Ecologia

Surge no ambiente empresarial uma nova linguagem que inclui o respeito ao meio ambiente e aos seres vivos que nele habitam. A biodiversidade, o desenvolvimento sustentado, o planejamento planetário, entre muitas opções estratégicas, serão cada vez mais incorporadas pelas organizações para propiciar uma gestão afinada com a preservação do ambiente em que está inserida, bem como dos diversos ambientes em que atua ou tem interesses. A integração de pessoas, em sua miríade de comportamentos e crenças, aos objetivos macros da organização, vai exigir uma nova mentalidade institucional. Ecologicamente falando, a preservação, que é o respeito à natureza básica dos indivíduos e a não extinção, que é uma ação consciente em prol de sua continuidade, vão demandar das empresas um sistema planejado para lidar com a diversidade em sintonia com o meio, buscando seu progresso. Sem isso não será possível gerar respostas inovadoras a questões cada vez mais complexas, num ambiente onde o desafio competitivo é superar-se continuamente.

Espiritualidade

A cada dia a Missão Estratégica de uma empresa terá que deixar de ser uma bela frase emoldurada, para ser uma prática consciente. A essência do negócio, a razão de ser, sua visão de futuro, devem determinar as atitudes, comportamentos e ações realizadas por cada um de seus membros. Isso significa dizer que a organização deve possuir uma alma comum, que une cada um dos indivíduos que a compõe em prol dos mesmos objetivos, baseados num conjunto de valores.

As empresas onde não haja o fomento de um espírito de corpo, onde as pessoas não consigam se sentir parte de um contexto meritório, terão imensa dificuldade em competir. Isso porque as demandas competitivas vão exigir cada vez mais competência onde a ação ocorre, no mercado, em contato com o cliente, no momento em que se produz uma solução ou se planeja uma atividade. Essa competência só poderá ter autonomia e poder efetivo se incorporar valores institucionais perenes e se guiar por um sentimento de pertencimento. Empresas com espiritualidade alta, quem não tem a ver com religiosidade, são instituições em que as pessoas tem paixão pela atividade que realizam e onde o número de empreendedores internos é quase tanto quanto o número de colaboradores que compõem seus quadros.

O ajuste da operação às tendências aqui apresentadas é uma decisão estratégica, que vai exigir um esforço consciente e contínuo em prol dessa mudança. Entretanto no futuro o resultado dessa decisão pode se mostrar a chance de perpetuar atividades e alcançar resultados. Não é possível esperar por um ambiente melhor, é preciso esperançar, ou seja, acreditar fortemente na mudança e agir para que ela ocorra.

Fonte: http://www.sustentare.net/ver_noticias.php?id=610
Autor: *Dulce Magalhães é doutora em Planejamento de Carreira pela Universidade Columbia (USA), mestre em Comunicação Empresarial pela Universidade de Londres (Inglaterra), pós graduada em Marketing pela ESPM-SP, graduada em Comunicação Visual pela UFPR, com especialização em Educação de Adultos pelas Universidades de Roma (Itália) e Oxford (Inglaterra), representante Brasileira no Seminário de Cultura e Comunicação da Unesco – USA. Autora dos livros, Alternativas Estratégicas para o Varejo no Brasil e Mensageiro do Vento – Uma Viagem pela Mudança e co-autora dos livros: Tempo de Convergir e Le Sacré Aujord'hui, publicado na França em 2003.

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